Adaptar, dispersar ou enfrentar a extinção

Fotografia de um campo florido
As mudanças climáticas podem ter impactos maiores do que o suposto sobre a flora e a fauna. Na busca em se adaptar às novas condições ambientais, ou então em migrar para outras regiões que ainda mantenham as condições ideais, diferentes espécies poderão aumentar a competição entre si, apontou estudo de cientistas de universidades do Canadá e da França.

Considera-se que, quando o ambiente muda, a sobrevivência das espécies está ligada à sua capacidade de dispersão para outros espaços geográficos ou à adaptação evolutiva às mudanças introduzidas. Todavia, segundo o estudo, o conhecimento científico de como adaptação e dispersão interagem e contribuem para a sobrevivência de múltiplas espécies era ainda limitado.

Esperava-se que a adaptação e a dispersão reforçassem uma à outra, fazendo com que uma espécie sobrevivesse em determinada região geográfica. Para testar essa hipótese, os cientistas criaram um modelo computacional capaz de reproduzir a adaptação e a dispersão de comunidades de diferentes espécies.

Simulando alterações ambientais, eles exploraram através do modelo como a adaptação e a dispersão contribuem, independentemente e de forma integrada, para a manutenção da biodiversidade.

Os resultados das simulações sugeriram que as duas alternativas podem, em conjunto, reduzir a biodiversidade. Analisada individualmente, dispersão representaria um tipo de seguro espacial para as espécies. Através da dispersão, as espécies conseguiriam se manter na paisagem, mudando sua distribuição geográfica.

O mesmo ocorreria quando a adaptação é considerada isoladamente. Por meio da evolução genética, uma espécie poderia adquirir as características necessárias para sobreviver à alterações ambientais na mesma região geográfica.

Contudo, em situações nas quais adaptação e dispersão acontecem simultaneamente, a soma de ambas não resulta necessariamente em um resultado positivo. Pode ocorrer perda de biodiversidade. O motivo seria a competição entre as espécies.

As espécies cuja evolução se dá em velocidade maior do que outras ganham uma vantagem. Elas se adaptam mais rapidamente às alterações ambientais, trazendo sucesso na colonização das áreas geográficas onde se encontram e o aumento de suas populações . Isso é chamado efeito de monopolização.

As espécies de evolução mais lenta, por sua vez, irão depender da dispersão como alternativa de permanência na paisagem. Ao migrar de um ponto ao outro, essas espécies passarão a competir com as espécies originalmente presentes no local de destino.

Por causa do efeito de monopolização, as espécies de rápida evolução originárias de um determinado lugar se tornam mais competitivas. Isso funciona como um obstáculo à que espécies de outras regiões tenham sucesso em migrar e colonizar suas áreas.

Sem conseguir se dispersar, as espécies de evolução mais lenta correm o risco de extinção.

Quando as taxas de movimento espacial das espécies é alta, o estudo apontou que o conflito entre adaptação e dispersão diminuía. Mas quando a taxa de dispersão fica limitada - por exemplo, devido à fragmentação de habitats, que pode interromper o movimento das espécies entre regiões -, o conflito se acentua.

Na projeção dos impactos das mudanças climáticas, é preciso considerar conjunta e interativamente os processos da dispersão e da adaptação. Caso contrários, pode-se subestimar o risco de extinção de espécies.

Fonte: UBC Science
Mais informações: Thompson, P. L., & Fronhofer, E. A. (2019). The conflict between adaptation and dispersal for maintaining biodiversity in changing environments. bioRxiv, 490722.

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