O aquecimento global tem levado ao aumento da frequência e da intensidade de desastres naturais. E isso se traduz em danos econômicos maiores devido a eventos climáticos extremos, afirmou estudo de pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, França e Itália.
Ainda havia dúvidas se o aquecimento global estava elevando os impactos econômicos dos desastres naturais. De acordo com o estudo, as pesquisas anteriores eram discordantes, e não permitiam identificar uma tendência nos custos econômicos de eventos climáticos extremos.
Os resultados inconclusivos da literatura científica teriam origem em parte na metodologia estatística empregada. Para os pesquisadores, o método sofria de limitações que impediam a identificação, ao longo do tempo, dos danos à economia associados aos eventos extremos.
O estudo se baseou em uma nova abordagem. Além de levar em consideração outros fatores que influenciam nos danos econômicos -como, por exemplo, crescimento populacional e renda -, também se analisou detalhadamente os dados desagregados ao nível de eventos individuais. Foram analisados desastres naturais registrados entre 1960 e 2015 em todo o mundo.
Quando calculado o dano econômico médio ou agregado, o estudo identificou um aumento modesto, sem uma tendência temporal positiva. Mas a avaliação média ou agregada não retratava fielmente o que estava acontecendo durante as décadas analisadas.
Ao investigar em detalhe os dados a partir do tipo de evento, revelou-se uma modificação na frequência e intensidade dos eventos climáticos mais catastróficos. Para esse tipo de desastre, o aumento dos impactos econômicos apresentou um aumento impressionante.
O resultado representa um forte indicador de que o aquecimento global tem se refletido em maiores danos econômicos causados por eventos climáticos extremos. A tendência se concentrou em países das zonas temperadas do que das zonas tropicais.
A variação geográfica, sugeriram os pesquisadores, estaria vinculada a dois elementos. Em primeiro lugar, os países de zonas temperadas passaram a conviver mais frequentemente com desastres naturais devastadores. Já os países das zonas tropicais teriam aprimorado sua resiliência a eventos extremos.
O setor de seguros e a gestão pública estarão expostos a perdas econômicas devido a desastres naturais cada vez maiores, alertaram os pesquisadores. E a adaptação às mudanças será crítica tanto em países de zonas temperadas quanto tropicais.
E se as mudanças climáticas consistem também em eventos extremos mais intensos e frequentes, que estão se traduzindo em aumento do impacto na economia, faz todo o sentido investir na mitigação. Eliminar as emissões de gases de efeito estufa, limitando o aquecimento global, evitará que desastres naturais imputem custos cada vez mais altos sobre as sociedades.
Mais informações: Coronese, M., Lamperti, F., Keller, K., Chiaromonte, F., & Roventini, A. (2019). Evidence for sharp increase in the economic damages of extreme natural disasters. Proceedings of the National Academy of Sciences, 116(43), 21450-21455.
Imagem: figura 2 do estudo - à esquerda, cálculo dos danos econômicos anuais causados por eventos climáticos extremos. As barras coloridas indicam o custo anual total. A linha vermelha tracejada mostra os custos associados a eventos catastróficos. À direita, a tendência de impactos econômicos, ao longo do período de estudo, para cada faixa de evento climático extremo - de menos para mais catastróficos.
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